sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Atentado ao Porta dos Fundos


Atentado ao Porta dos Fundos

Como sabemos estamos de volta à era dos atentados virtuais ou simulados, para puro espetáculo das plateias, e também os reais com propósitos mais sinistros, como parece ser o caso atual.

Às vésperas do Natal duas bombas de coquetel Molotov foram atiradas na produtora do Porta dos Fundos, no Humaitá, zona sul do Rio de Janeiro, supostamente em protesto contra a polêmica  exibição de um  especial de Natal que presentou na TV fechada uma versão gay de Jesus. Esta exibição  incentivou o atentado praticado por elementos da extrema direita, ligadas a neo pentecostais, ultraconservadores de ocasião e a Bolsonaro/Olavo de Carvalho,  em oposição ao setores mais progressistas da sociedade. Certamente é mais um artimanha para justificar o fechamento do regime, que parece ser o objetivo final do governo e do empresariado internacional que domina o país comandados pelos americanos que  patrocinam  o mesmo em toda a América Latina.

Parece claro que o objetivo do Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Brasileira, que se anunciou com autor do atentado, é colocar mais lenha na fogueira do firme avanço dos golpistas para implantar um Ato Patriótico Tupiniquim ou Tabajara, como preferirem, que liquide totalmente o que ainda resta de liberdade e democracia no país, seja com terrorismo real ou inventado. Deve ser por isto que os incendiários usaram no atentado um acento de esquerda em alguns momentos de seu tosco pronunciamento.

Alguns atos deste projeto autoritário do regime já foram, em parte,  implantados, entre eles as leis de criminalização do terrorismo e de inelegibilidades, ainda no governo Dilma. Mas agora busca-se a consolidação definitiva da ditadura com os decretos e projetos de leis que atualmente tramitam no Congresso. São todos muito autoritários e agressivos, própio de regime anti democráticos como vemos abaixo.

- PL 443/19: Transforma em crimes atos comuns como militância política, participação de atos públicos ou ocupação de terras em terrorismo;
- PL 1595/19: Estabelece forças “antiterroristas”;
- PL 2418/19: Legaliza o monitoramento de aplicativos e troca instantânea de mensagens;
- PL 3389/19: Obriga vinculação de CPF a cada conta de rede social, acabando com o anonimato na rede;
- DL 10046/19: Permite o cruzamento de bancos de dados contendo biografia, biometria e até dados genéricos e traços pessoais, como tipo de andar, defeitos físicos e outros.

Nos últimos dias do ano a polícia civil carioca divulgou o nome e dados de um dos envolvidos no no atentado, Eduardo Fauzi, que possui uma vasta ficha que deve ter servido para credenciá-lo a ser escolhido a participar ataque. O sujeito é filiado a organização integralista, possui 15 registros em sua ficha criminal, é filiado ao PSL ( ex- partido de Bolsonaro), tem envolvimento com milícia na cobrança de estacionamentos rotativos no RJ e é seguidor do “guru” Olavo de Carvalho. Outros três envolvidos não foram citados na investigação mas devem ter perfil parecido. Não é difícil associar o intuito do crime que seria buscar envolver entidades supostamente ligadas à cultura e à esquerda com atos confusos de terrorismo e como também buscam a intimidação, própria do fascismo.

Nota-se  a total falta de empenho do Ministro da Justiça Sérgio Moro que está mais preocupado que sua PF continue a inventar crimes contra Lula, como aconteceu esta semana com a abertura de mais um inquérito sobre palestras. Ele também deve estar  muito ocupado com o Pacote Contra o Crime, aprovado em parte pelo Congresso, que completa o ataque total aos cidadãos de baixa renda e negros em geral. Por outro lado dá para imaginar a reação fulminante do Ministro se o atentado tivesse sido cometido contra uma agência de Vara da Justiça ou um templo evangélico frequentado por Bolsonaro ou um de seus ministros.

Vale lembrar o nosso passado sombrio onde a lei de segurança, vigente na ditadura implantada em 1964, possibilitou além das prisões, torturas e assassinatos, incêndios de bancas que distribuíam jornais de oposição, atentado à ABI, com a morte de uma funcionária, e também as bombas que explodiram no Rio Centro que poderia ter matado milhares de trabalhadores em show no dia dos trabalhadores no Rio Centro. Será que vamos voltar a este terror?

É um quadro sinistro que indica fortemente o fechamento total do regime possibilitando práticas de censura total e terrorismo de estado, além do cerceamento de quaisquer opiniões que não esteja no modelo ultraconservador que vigore no momento, dependendo do grupo ou clã que esteja no no poder, sem falar na prisão de qualquer opositor e as respectivas torturas e sumiços daí decorrentes.

Como vemos 2020 vai ter que ser de muita luta para conscientizarmos e convencer todos que, além dos pontos específicos que interessam a cada um pessoalmente, temos que trabalhar pelo fim do governo Bolsonaro, e seus golpistas, incentivador de descalabros tipo o atentado ao Porta dos Fundos e tantos outros absurdos que estão acabando com o nosso antigo belo país.

Trazemos a versão de Porchat. Ele lembra que satirizar a Bíblia não é contra a lei, mas chutar Nossa Senhora é. Depredar centros de umbanda é contra a lei. Dizer que você tem que parar de tomar remédio e só quem cura é Deus é contra a lei. Jogar coquetel-molotov em uma produtora porque não gostou do que ele produziu também é contra a lei, como ele disse ao DCM.

Feliz 2020 a todos os companheiros e trabalhadores brasileiros e latino-americanos.


Texto de Lupimar
Militante nas comunicações populares no Brasil


Cristiane Camargo
Secretária dos meios alternativos de comunicação popular no Brasil.


Ruben Soarez
Diretor Internacional.


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