A Conaicop Brasil se solidariza com a companheira Cristiane Galarza que
em uma discussão com o companheiro Rafael Dantas foi ofendida com insinuações
machistas sobre sua vida particular. Pedimos enquanto unidade de grupo que o
companheiro se retrate publicamente sobre o comentário veiculado no grupo
Conaicop Brasil. Porém, sabemos que a questão chave da discussão não era essa,
e sobre isso temos o seguinte posicionamento:
Nossa intenção ao agregarmos diferentes posicionamentos da esquerda
brasileira e da America Latina é justamente a busca por uma unificação para
publicações de matérias de interesse da classe trabalhadora através de uma leitura
critica, e assim desvencilhar as amarras ideológicas do capitalismo. A urgência
dessa proposta se faz pela ofensiva da política econômica neoliberal e o
advento do fascismo político.
Dessa forma, esclarecemos que conhecemos as divergências políticas
partidárias que existem entre nós, e não a desmerecemos, mas entendemos que
elas devem ser ponto de partida para uma construção popular unificada. Essas
diferenças não são apenas de fatos do presente, mas se materializam desde o
inicio da repercussão da Teoria Revolucionária de Marx.
Para
evidenciarmos esse processo vejamos o que Esping Andersen tem a dizer sobre a social-democracia:
Ao adotar o reformismo
parlamentar como estratégia dominante em relação à igualdade e ao socialismo, a
social-democracia baseou-se em dois argumentos. O primeiro era o de que os
trabalhadores precisam de recursos sociais, saúde e educação para participar
efetivamente como cidadãos socialistas. O segundo argumento era o de que a
política social não é só emancipadora, é também uma pré-condição da eficiência
econômica (Myrdal e Myrdal, 1936). Segundo Marx, o valor estratégico das
políticas de bem-estar neste argumento é o de que elas ajudam a promover o
progresso das forças produtivas no capitalismo. Mas a beleza da estratégia
social-democrata consistia em que a política social resultaria também em
mobilização de poder. Ao erradicar a pobreza, o desemprego e a dependência
completa do salário, o welfere state aumenta
as capacidades políticas e reduz as divisões sociais que são as barreiras para
a unidade política dos trabalhadores.
O modelo social-democrata é,
então, o pai de uma das principais hipótese do debate contemporâneo sobre o welfare state: a mobilização de classe
no sistema parlamentar é um meio para a realização dos ideais socialistas de
igualdade, justiça, liberdade e solidariedade. (ANDERSEN, 1991,p 90-91).
É evidente que a social-democracia não alcançou a destruição das bases
capitalistas como propunha seus defensores, mas também é evidente que gerou
melhorias para a classe trabalhadora, e devem ser reconhecidas e respeitadas
enquanto estratégias na história da esquerda.
Da mesma forma
no Brasil, quando ante a década de 1930 quando o partido comunista apoia a industrialização
unindo-se a setores da burguesia, cabem
sim criticas, mas ao mesmo tempo o
desenvolvimento urbano contribuiu com a organização dos trabalhadores
impulsionados pelos imigrantes de orientação política anárquica que passam a
criar movimentações políticas nas comunidades de trabalhadores discutindo sobre
as condições de exploração que estavam vivenciando, nasce também desse processo
os primeiros contestadores políticos do nosso país. Vale resaltar que no
período da República Velha, segundo Passetti (2008) os anarquista tinham se
organizado para educação de seus filhos e dos trabalhadores, criando em São
Paulo duas escolas fundamentadas nas ideias de Paul Robin de uma educação
libertária, suas práticas eram fundamentadas na construção educativa de uma
emancipação da classe trabalhadora, tendo início desde os primeiros anos de
ensino. Essa iniciativa já em
funcionamento em duas escolas em São Paulo foi duramente reprimida e o Estado
passou a regulamentar e oferecem o ensino público, retirando a possibilidade de
emancipação aos trabalhadores brasileiros.
Não diferente disso, a organização da sociedade civil principalmente no
final da década de 1970 e 1980 pela redemocratização, materializaram os
direitos sociais na Constituição Federal de 1988 reconhecida como
socialdemocrata, e retiraram da morte
milhares de trabalhadores principalmente pelo acesso a saúde pública. Ainda que
na década de 1990 fosse atropelada pela ofensiva neoliberal.
Sobre os
governos do Partido dos Trabalhadores - PT, nunca tiveram em seu bojo de
propostas a destruição da estrutura capitalista: propriedade e renda. Porém, da
mesma forma desempenharam um grande papel de acesso às universidades e Institutos
Tecnológicos nunca alcançados antes na história brasileira.
Então, como podemos descartar as lutas dos grupos mais críticos e
progressistas da nossa sociedade sem levar em conta sua contribuição para a
classe trabalhadora?
Por esses e outros motivos próprios da luta política, que buscamos como
norte para um processo de amadurecimento criar estratégias de comunicação com a
classe trabalhadora com o propósito emancipatório, unificando forças e lutando
contra nosso histórico de unificação com os setores conservadores da política
nacional como apontam Caio Prado Jr. E Florestan Fernandes. Se temos que unificar,
que seja com a esquerda!
Sendo assim. Nossa intenção nunca foi de cercear o pensamento ou a
liberdade de expressão, e abrimos espaço para que a companheira Cristiane
Galarza publique uma nota explicativa para publicação e também para esclarecer
aos companheiros da Conaicop Brasil sobre os motivos da discussão, a fim de que
todos os conheçam. Da mesma forma, em solidariedade aos militantes do PCO que
fazem um trabalho de base de sol a sol com a venda de jornais e ligações,
viajando muitas vezes apenas com o dinheiro de um lanche no bolso, abrimos
também o espaço para o dirigente do PCO Rui Costa Pimenta se manifestar, se
assim quiser.
Assim, se
encerra nosso pronunciamento sobre o assunto.
Cristiane
Camargo
Secretaria
dos meios alternativos de comunicação popular no Brasil.
Rubén
Suarez
Diretor
Internacional.