Artigo de Roberto Bergoci - Militante na comunicação popular no Brasil
Diretor do Conaicop - Rubén Ruarés
Publicado por Luiz Pimenta
O aprofundamento da crise econômica do capital trás em seu bojo o recrudescimento da instabilidade politica e social, colocando em frangalhos o próprio regime de dominação da burguesia.
A experiencia histórica ensina que, diante de graves crises econômicas, os capitalistas para salvar seus lucros e manter a dinâmica da acumulação, necessitam repassar aos trabalhadores todo o ônus de tais crises. Tal saída burguesa agrava no entanto, as contradições sociais e potencializa o embate entre as duas classes antagônicas fundamentais da sociedade atual: a saber, burguesia vs proletariado.
Tais períodos de irrupção e agravamento das contradições da sociedade burguesa, não faz mais do que radicalizar as lutas entre as classes, arrastando a pequena burguesia a arena de luta, devido a ameaça patente de sua proletarização e, porque não, proletarização.
Tal situação, se agravada, obriga as classes dirigentes a adequarem, mesmo que inconsciente, a forma politica e jurídica do Estado, às necessidades imperiosas da acumulação irracional. Como disse Engels em sua carta publicada no Sozialistischer Akademiker: "O desenvolvimento econômico, jurídico, filosófico, literário, artístico etc., repousa sobre o desenvolvimento econômico. Mas todos eles reagem, conjuntamente e separadamente, um sobre o outro e sobre a base econômica" ( Carta de 1894).
Dessa forma, para que as condições econômicas baseadas na acumulação via exploração selvagem sobre o proletariado seja "bem sucedida", as engrenagens da super-estrutura ( sobretudo o judiciário e forças de repressão) tem de ser azeitados e ganharem "novas" formas.
No Brasil vemos atualmente uma hipertrofia assustadora do papel bonapartista dos juízes e promotores, que cada vez mais, assumem um papel de arbítrio ajustando não só os conflitos entre as classes antagônicas a favor dos exploradores, mas atuando no sentido de disciplinar as próprias facções em luta de capitalistas, como tem feito a golpista Lava Jato.
Mas no entanto, um setor que ganha proporções enormes e cada vez mais protagonismo no interior do Estado burguês contemporâneo, são os aparelhos repressivos policiais.
Basta dizer que, o presidente neofascista Bolsonaro e as igrejas neo pentecostais que o sustentam, estão amplamente ancorados no setor de repressão, que na prática, tem levado adiante uma verdadeira politica de genocídio contra a população negra e as parcelas mais oprimidas da classe trabalhadora.
O regime politico no país, tem se assemelhado cada vez mais com a descrição feita pelo escritor revolucionário estadunidense Jack London, no seu clássico romance o "Tacão de Ferro", que descreve uma ditadura despótica brutal do capital.
Para além das forças repressivas da ordem, a burguesia tem recrutado como seus auxiliares e tropa de choque, bandos lupens de vadios reacionários, arrebanhados sobretudo, no interior das classes médias em decadência, vitimas do capitalismo dos monopólios. Estes são a parte visível dos agrupamentos de tipo fascista que vemos pipocar no país e que tem como característica, a violência física, de tipo militar assimétrica, contra as organizações operárias e populares, ou que eles identificam como sendo "comunista", como o ataque aos estúdios do programa humorístico "Porta dos Fundos", em dezembro.
O crescimento de tais grupos fascistas, com apoio e coordenação de membros das Policias Militares e das Forças Armadas, representa grande risco para o movimento operário e popular; mas também, para a juventude negra das periferias, que serão ainda mais reprimidos e violentados pela burguesia, diante do impasse de seu regime e da impossibilidade de o capitalismo dependente em crise, inserir produtivamente a maior parcela da juventude pobre.
Diante de tal situação muito grave, a esquerda brasileira, junto dos sindicatos e movimentos populares, precisam urgentemente se organizar em Frente Única de ação imediata e passar à ofensiva contra a extrema direita.
É urgente romper com as ilusões pacifistas e o legalismo acovardado e organizar a resistência classista. Defendemos nessas condições, a formação dos Comitês de Auto-Defesa para a ação.
Refletindo sobre os ataques da burguesia contra os trabalhadores na França dos anos 1930, Leon Trotsky, grande estrategista militar e fundador do Exército Vermelho na União Soviética nos lega uma valorosa orientação sobre a organização da auto-defesa em tempos como o que vivemos. Neste sentido, temos pleno acordo com Trotsky, quando este diz a respeito dos Comitês de ação:
"A primeira condição para isto é compreender claramente o significado dos comitês de ação como o único meio de quebrar a resistência anti-revolucionária dos aparatos dos partidos e sindicatos(...)Tarefas como a criação da milicia operária, o armamento dos operários, a preparação da greve geral, ficarão no papel, se a própria massa não se entregar à luta por meio de seus órgãos responsáveis. Somente esses comitês de ação nascidos da luta podem assegurar a verdadeira milicia, contando não com milhares, mas com dezenas de combatentes.
Somente os comitês de ação, abrangendo os principais centros do país, poderão escolher o momento de passar para métodos mais decididos de luta, cuja direção lhes pertencerá de pleno direito (Trotsky, "Aonde vai a França?").
Diante da ameaça real, integralista-fascista e do recrudescimento da violência policial contra as massas, fazemos um sério chamado às vanguardas revolucionárias e ao movimento operário e popular, para construirmos desde já estes instrumentos de defesa contra a extrema direita sanguinária!
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