segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Indígenas entre esquerda e direita



Escrito por Carlos Pronzato
Cineasta e escritor - Sócio do IGHB (Instituto Geográfico e Histórico da Bahia)
Publicado por Luiz Pimenta, militante na comunicação popular no Brasil
Diretor Internacional: Rubén Suarés

   As comunidades indígenas do continente americano sobrevivem num sofrimento infinito desde a invasão dos seus territórios pela conquista europeia no século XV.

   Embora hoje os 826 povos indígenas existentes representem quase o 10 % da população total (algo em torno dos 45 milhões), o aumento verificado nos últimos anos não responde apenas a uma dinâmica demográfica, mas também a um aumento da “autoidentificação”. E apesar das tentativas de resistência ao longo do tempo assistimos hoje ao recrudescimento de todo tipo de violências contra os primeiros habitantes destas terras. Sabemos que em alguns países a sua expressão demográfica tem diminuído até o quase extermínio ao passo que em outros, apesar da sua superioridade numérica nos dias atuais, não guarda relação simétrica com a desigualdade social e politica na qual se debatem a diário. Em todos os países, a situação indígena é calamitosa.                               


   O “avanço civilizatório”, o latifúndio, o extrativismo e a implementação dos megaprojetos impõem danos irreversíveis à natureza e as comunidades que ali habitam, independente do signo político de qualquer dos países latino-americanos.  No Brasil, como claro exemplo disto último basta lembrar a controversa construção da Usina de Belo Monte, no Xingu, obra concebida na ditadura e barrada durante anos pelos povos indígenas, cuja primeira turbina foi inaugurada por Dilma Rousseff (PT) em 2016 e a última por Jair Bolsonaro (PSL, hoje Aliança pelo Brasil). Também na Bolívia, antes do golpe de novembro de 2019, o ex presidente Evo Morales, que ideologicamente deveria se opor a um modelo depredador da natureza, impulsou um projeto que provocou o maior desgaste de todo o seu governo, denominado TIPNIS, a construção de uma estrada no meio de um território indígena comunitário e área ecológica.


               Protesto de povos indígenas em Brasília 05/2017.

   O México, onde AMLO (Andrés Manuel López Obrador) do partido de esquerda Morena (Movimento de Regeneração Nacional) ocupa a presidência há pouco mais de um ano, leva enfrente megaprojetos que afetarão a vida das comunidades maias na órbita dos territórios onde o EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), de composição camponesa e indígena, já declarou sua resistência ao capital transnacional. E não podemos esquecer do Chile, presente diariamente nos meios de comunicação pela sua gloriosa revolta popular contra um Estado que até hoje agride os mapuches, nação indígena que defende palmo a palmo os recursos naturais dos seus territórios ancestrais diante da rapina internacional amparada nos poderes executivos à direita e à esquerda. Portanto, independente das politicas públicas que os governos com maior sensibilidade social levam adiante, a questão indígena continua insolúvel.






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