segunda-feira, 6 de abril de 2020

Estamos em um golpe de Estado no Brasil?


Estamos em um golpe de Estado no Brasil?

Estamos sim em um golpe de Estado no Brasil desde a ingerência das políticas neoliberais após a Constituição Federal de 1988. O pacto federativo expõe com evidencias claras, a vontade popular naquele momento através do processo da Constituinte e da participação da sociedade, expressa na construção de um sistema de seguridade social que se propunha a cumprir os direitos sociais expressos  no art. 6[1] da Constituição Federal.
Tivemos, naquele momento histórico, um sopro do levante popular na década de 1980 que influenciou no pacto constitucional democrático naquele momento,  uma democracia burguesa é importante ressaltar, que não deixou por isso, de privilegiar uma camada da população em detrimento a miséria de muitos.
Esse Estado que no passado se apropriou das caixas de pensão e aposentadorias dos trabalhadores para financiar a indústria,  se utiliza dela até hoje para bancar os privilégios dessa classe. Os golpistas, sempre mantiveram sua representação no poder na democracia burguesa brasileira. O que acontece desde então, são políticas focalizadas, penalizando os pobres pela condição em que vivem, como se esse Estado nada tivesse com isso.
Para uma pequena parcela da sociedade o Estado funcionou, principalmente a classe política. A esses, o Estado garante os melhores planos de saúde, os melhores salários, as melhores roupas, os melhores restaurantes, tudo pago com o dinheiro do contribuinte. Aos demais trabalhadores... Pão e circo.
Ainda não se efetuou um golpe branco (militar) no Brasil nessas semanas como alguns têm noticiado, até porque a burguesia nunca saiu do poder no Brasil, desde 1988   ela não precisa de um golpe para governar, faz acordos.
Tudo permanece como antes. O que vemos hoje em dia nas favelas principalmente do Rio de Janeiro, vemos desde o início dos anos 2000 com as ocupações das favelas pelo exército, como também a violência policial em todas as periferias do país. Esse é o retrato do recrudescimento do braço forte do Estado contra os pobres no sistema neoliberal em uma  fase caracterizada por estudiosos como Estado Penal. E é na violência policial e no uso do exército nas favelas que isso se mostra mais evidente a população. Não que, não se retrate também, no encarceramento em massa após 1990, no massacre da juventude negra, e no trato conservador e repressivo ainda presente na política para criança e adolescente.
O acordo político da década de 1990 logo depois da Constituição Federal para a reforma do Estado, e digo acordo por ter se efetuado num grande acordo entre os partidos de esquerda, centro e  direita para implementação de um modelo de estado hibrido social – de cunho neoliberal - que respondesse aos interesses de setores conservadores e reacionários do cenário da política burguesa e suas representações. Essa proposta demonstra ha tempos sua ineficiência, mas agora, diante de um colapso de saúde pública e social, concretizará infelizmente, o fracasso desse modelo neoliberal expresso na morte de trabalhadores.
O neoliberalismo não pode responder aos anseios da classe trabalhadora em nenhuma área: na saúde, na área social ou econômica. Os direitos social garantidos no art. 6 da Constituição Federal, prevê para todo território nacional direitos básicos e fundamentais  que devem ser respeitados e cumpridos a todo custo. E relembramos que,  em meio a todo esse tempo da Constituição Federal  e do SUS, todas as medidas constitucionais sejam elas: medidas provisórias, projeto de lei, emenda parlamentar ou qualquer outro documento utilizado, foi aprovado por toda a classe políticas do Brasil sob os ritos da democracia burguesa representativa, e é essa classe, esse sistema, que deve ser responsabilizado agora. Não responsabilizaremos apenas um fantoche utilizado pelo capital, que está no poder executivo nesse momento! 
Nós, a classe trabalhadora, desde a década de 1980 temos solicitado de todos os governantes que passaram pela presidência, ações e formas concretas de atendimento a toda a população.  Houve avanços! Porém, não suficientes, e ao mesmo tempo vemos o dinheiro dos contribuintes e as riquezas produzidas no país sendo espoliadas por uma parcela da  população.
Como evidenciei acima, houve avançamos nas políticas públicas, principalmente em relação ao SUS, mas enfatizamos que foram até hoje, orquestrado pela política econômica neoliberal, com atendimentos insuficiente, de pouca qualidade e contabilizados por valores de procedimentos. Ainda assim, sou grata por aqueles que lutaram por nós, nasci no ano de 1982 acompanhei de perto o final dessa década até os dias de hoje, posso afirmar que  não é de hoje que os mais pobres clamam por saúde, eu sei! Agradeço, à luta das mães que perderam seus filhos naquelas épocas terríveis, por causa da Lombriga, da varíola, da caxumba, da solitária,do sarampo e de tantos outros males que sofríamos. Dos amigos que vimos perder a vida e os movimentos pela poliomielite que chamávamos na época de paralisia infantil. O SUS até aqui se fez nesse grito de luta, porque faltou muita boa vontade de muita gente, pra isso acontecer como esperávamos e esperamos.
 A  área social nesses próximos dias mostrará seu alcance com o Cadastro Único da Assistência Social, e evidenciará também  a falta de uma renda fixa para o trabalhador e como isso poderá leva-lo a morte, fruto desse sistema econômico e das mudanças no mundo do trabalho para produção que visou cada vez mais o lucro de uma parcela da população deixando a própria sorte centenas de milhares de brasileiros.
Para que seja possível  retomar a economia e a normalidade das vidas, como pedem apressados os capitalistas, é necessário que respostas sejam dadas a população. E a primeira delas é a garantia de atendimento a todos. Estatizando para o cuidado de todos, todos os hospitais, toda tecnologia, as universidades, e os laboratórios que possam garantir o melhor atendimento a toda população. Estatize para isso também, todas as riquezas naturais do país em favor da população, de forma, a subsidiar os trabalhadores em isolamento social e o sistema único de saúde. Essa é a forma mais segura  de voltarmos ao mínimo da rotina de afazeres até que se apresente uma cura ou uma vacina ao vírus COVID-19.
Partimos do pré suposto que, o melhor atendimento médico que existe no  país deve ser  colocado ao uso de toda a população. Todos os testes necessários, acompanhamentos a todos os pacientes, leitos de enfermarias e UTIs  a todos Sendo feito o isolamento para não sobrecarregar o sistema, até que o SUS consiga caminhar para garantir o atendimento a todos em normalidade.
Também quero lembra-los que é isso que diz a Constituição Federal de 1988, que não estamos exigindo nada que não tenha sido pactuado entre todos. A defesa e garantia de nossas vidas, através do cumprimento, principalmente dos direitos sociais que ainda não se efetivaram igualmente para todos nesse país. O SUS precisa funcionar para todos, igualmente, sendo o melhor sistema de saúde oferecido a toda a população em território nacional.  
Diante disso, ainda sobre os direitos fundamentais, é necessário que se fale sobre a garantia de moradia. Esses dias tem mostrado ao trabalhador como são frágeis suas relações e estruturas econômicas. É necessário que se esclareça, que isso se dá por um sistema econômico em andamento e não pela limitação de suas forças vitais ou morais como pregam os neoliberais. É necessário que o Estado cumpra a Constituição Federal sem mais demoras e garanta moradia digna a todos, efetivando, para isso, uma reforma agrária e urbana.
 Não poderia deixar de falar também em renda, trabalho e valorização.  E nesse sentido, falamos em dividir riquezas e não ainda mais misérias. A redistribuição de renda deve acontecer,  no sentido que, o  padrão de corte para auxílios governamentais sejam igualados aos salários públicos do país.
Dentre essa classe de trabalhadores privilegiados pelo sistema, estão também os políticos e o auto escalão  judiciário. Que eleva a revolta das alas tanto conservadoras quanto progressistas da sociedade. Pois, todos esses que estão votando e aprovando que uma pessoa viva com 600,00 por mês – mesmo sendo melhor que a proposta de 200,00 oferecida pelo governo - toda essa classe política aprova também seus próprio salário e privilégios pagos por nós. Eles votam o que vamos receber e votam o que eles vão receber com uma diferença gritante nesses dois valores. Não há uma base de calculo ou uma proposta no meio político que nos aponte  a devolução do que nos foi tirado até hoje nas divisões das riquezas desse país, em que apenas um grupo de 10%  da população do Brasil  detém mais de 50% da riqueza produzida no pais.
Dessa forma, enquanto trabalhador, nos contentamos por ora com a equivalência salarial dos demais trabalhadores com os mesmos valores pagos à classe política do país. Sendo utilizado pra isso,  se preciso for, a divisão das riquezas desses 10% da população, a estatização e democratização das riquezas naturais e a retomada das bases fundamentais da função social da propriedade. Garantido com isso, da mesma forma a todos a Propriedade e  a Renda.
 Enquanto classe trabalhadora, reivindicamos que se cumpra o art. 6 da Constituição Federal, e que seja nos oferecido por esse Estado o melhor sistema de saúde em caráter universal como está proposto na Carta Magna e com a melhor qualidade disponível no mercado.
É necessário que as coisas mudem no Brasil, que o trabalhador tenha seus anseios respondidos, e que as medidas de investimentos e ampliação do SUS sejam ofertadas e implementadas para só ai, voltarmos com segurança ao trabalho.  Não há como fugir disso! E só assim, poderemos dizer que não vivemos em um golpe burguês constitucional.
Talvez, essa nossa luta legalista nos mostre os limites da democracia burguesa. Nosso pedido é que seja cumprido o que foi pactuado na Constituição Federal de 1988 no art. 6 dos direitos social segundo as próprias orientações internacionais dos Direitos Humanos.
E se para isso, se preciso for, que se construa um novo modelo de Estado e sociedade. Para nós, se querem chamar isso de comunismo ou socialismo pouco importa. É preciso que seja feito, o nome, vê-se na caminhada.

Cristiane Camargo – Secretaria dos meios alternativos de comunicação no Brasil

Rubén Suarez – Diretor Internacional.



[1] Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança,  a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.